Fechei a porta atrás de mim. Fechei a porta atrás de mim e tranquei lá fora os problemas do trabalho. Esses e todos os outros. Agora era só eu e os silêncios do meu apartamento.
Um banho quente... Era de um banho quente que precisava, com tão pouca luz quanto possível, para lavar de mim o stress do dia e a loucura do mundo.
Deixei a água quente correr. Deixei que fervesse e que o vapor se apoderasse do ar. Enquanto isso, recolhi três velas e acendi-as ao fundo da banheira.
Libertei-me das roupas pesadas do dia. Passei-me para dentro da banheira, corri a cortina e mergulhei de uma vez só para debaixo do chuveiro. Deixei que a água quente me envolvesse e que sugasse para o ralo cada aflição que teimava em viver em mim. Os pensamentos dentro de mim eram como cordeiros num matadouro, a cirandar cegamente num labirinto à espera da sua hora de morrer num beco sem saída.
Tudo o que eu via era a luz das velas esborratada contra o vapor que pairava. Os meus músculos amoleciam, os meus joelhos ameaçavam ceder sob o peso do meu corpo e tudo o que eu ouvia, já longinquamente, era a água que me caía na cabeça e aos pés.
Hoje, por uma vez na vida, dava graças a Deus por ser sozinha. Não seria capaz de suportar a dor das centenas de famílias, avós, pais, mães e irmãos, que lá fora e na televisão choram, entre os gritos e as sirenes que encheram a nossa noite. Agora quero deitar-me, esconder-me da realidade e esperar que amanhã seja um dia melhor; esperar que quem sofre encontre neles a força que eu não teria para enfrentar a perda e o horror.
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