Perdes todo e qualquer refúgio.
Caem as paredes e o tecto e ficas só, frente a frente com a tua sombra diminuída, entregue à arritmia ensurdecedora do teu coração. E sem paredes e tectos, dás por ti no centro de um tornado violento de silêncios somente teus. Silêncios que, apesar de silêncios, te gritam incessantemente aos ouvidos, impiedosos e desarmantes, abalando-te e subjugando-te como nenhuma outra voz consegue fazer. E então ficas nu nesse mesmo lugar que ocupas, nessa escura terra húmida que pisas e te envolve os pés agora descalços, desprovido das roupas que antes te acarinhavam a pele.
É como se te arrancassem um tapete de debaixo dos pés de um puxão só. Ou talvez como se tirassem de debaixo de ti todo o teu chão, todo o apoio em que dia após dia te equilibras plenamente com a confiança cega de que estará para sempre lá, e é caíres desamparado num buraco sem fundo e avançares aos trambolhões por uma qualquer ravina imaginária.
É congelares no tempo e constatares que, como sempre ouviste dizer, o mundo e as pessoas que conhecias não congelaram e não esperaram - nem esperam - por ti. É a vida em teu redor manter o ritmo frenético e tu ficares para trás; seres posto de lado como aquela comida de que não se gosta na borda do prato.
É fazeres tudo e saber-te sempre a pouco. E é estares lúcido e são e estares ao mesmo tempo louco.