Não sei, Megan, qual estrela és Tu entre as estrelas que vestem o céu nocturno para lá da nossa janela. Suspeito, todavia, que sejas a que brilha mais que todas, aí bem a dois palmos da Lua. Tu, que aos meus olhos sempre brilhaste mais que as restantes. E conto, olhando-te, que consigas escutar-me, do alto da tua nova casa.
Serei eternamente agradecido pela dádiva de viver uma vida em Ti; não só "contigo", não apenas "ao teu lado", mas em Ti. Contigo, ao teu lado e em cada pedaço do teu ser. Em cada traço do teu rosto, no pestanejo dos teus olhos, no fôlego da tua respiração, no som da tua voz. Em cada palavra da tua boca, em cada beijo dos teus lábios, em cada gesto das tuas mãos, em cada carinho dos teus dedos; em cada passo dos teus pés, em cada pensamento da tua mente, em cada ideal do teu carácter e em cada batida do teu coração...
Era desse coração que eu mais gostava. Dessa doçura infinita. Dessa bondade cega, dócil. E deixa-me já dizer-te, que nunca serão demasiadas as vezes que o repito e agora que não podes impedir-me de to dizer, que 42 anos de Ti foi o melhor que a Vida e o destino podiam ter-me reservado. Falar-te-ia em honra, falar-te-ia em privilégio e orgulho, oh se falaria!, mas quão curtas e vazias seriam essas palavras para te medir a Ti...?
Desculpa, estou a divagar...
Falava do teu coração de ouro; da tua doçura, infinita como o teu céu, e da tua bondade genuína, incondicional. E falava deles porque foi precisamente a ausência da tua bondade, a falta da tua gargalhada calorosa no ar, nas paredes, que me atingiu no peito quando regressei do jantar em casa da nossa Luisinha. Vim de lá quente, quente da lareira e quente do amor inocente dos nossos netinhos - para quem a Avó está só dormindo -, mas quando cheguei e fechei a porta atrás de mim faltou-me o teu calor invisível recebendo-me em casa de braços abertos. E ali fiquei, absorto na tua ausência, estarrecido.
Quando voltei a mim tinha um nó no estômago e duas grossas lágrimas deslizando-me pela cara. Não despi sequer o casaco da rua e vim tão depressa quanto pude para a nossa janela para procurar por Ti. Rodeado das tuas estrelas no céu, da lareira semi-apagada diante do sofá e do teu silêncio mudo.
Vivo realizado com a sorte que me foi confiada, e agradeço-a nova vez, mas viver nesta casa sem Ti, fora de Ti, é o mesmo que ter para mim todo o céu sem ter o brilho reluzente da tua estrela. É uma casa cheia e decorada, mas vazia e nua e sem a música do teu riso doce. É um tormento.
Tenho saudades tuas.
Achas que posso adormecer de vez e atravessar os anos-luz que nos separam?