Aprendes aos poucos que a idade não passa de um número, mais curto, mais longo, mais esguio, mais redondo. Aprendes que nada mais é do que um marcador de livros no teu caminho na vida, para que não esqueças a quantidade de páginas que escreveste, a quantidade de dias que respiraste.
Aprendes aos poucos o conceito de idade mental, idade intelectual. Aprendes, arrisco-me, o conceito de idade emocional. E aprendes que essas, essa em particular, não se mede em blocos de dias que vais saltando; que a idade emocional não existe em ti como o marcador de livros que regista o volume de páginas da tua vida, mas sim como o luxímetro que regista a intensidade de luz dessas tuas páginas.
Pára agora um pouco. Se olhares atentamente em teu redor - e em especial para o teu interior, para onde é mais importante olhar - depressa aprenderás essa lição. Não tardarás também a perceber que este mesmo luxímetro, que conta os teus anos emocionais, mede a luz dos teus dias, mas também a ausência dela. A sua escuridão. E que é a escuridão dos dias que vives que mais pesa na tua idade emocional.
Poderei segredar-te agora que hoje fiz mais um ano emocional.
Há uma série de coisas que mudam a tua perspectiva sobre a vida. Uma delas é acordares um dia e o teu pai ter cancro.
É acordares um dia sabendo que a pessoa que desde que nasceste te serviu de exemplo, de pilar de valores, de primeiro professor, de escudo, de teu modelo, tua imagem e teu reflexo, tem os dias (ainda curtos) contados. É acordares um dia sabendo que passaram 25 anos em que ele foi tudo isso para ti - e quanto mais...! -, sem te pedir nada em troca. E é acordares apercebendo-te de que provavelmente nunca antes, até hoje, lho reconheceste e nunca antes soubeste dar-lhe a devida palavra de apreço. O devido Obrigado. Ou quiçá o devido silêncio de um abraço sentido. E é ainda pensares que, para além de já com isso em falta, provavelmente foste injusto com ele tantas vezes, e quantas delas sem razão sequer.
É nesta sombra que se estende sobre o teu dia e se alastra sobre ti que tiras involuntariamente uns minutos para reflectir sobre a ordem das coisas. Sobre a lógica e a justiça dos acontecimentos, a filosofia da vida e a emoção de se Ser e de se Sentir. E aí, debruçado sobre ti mesmo, em harmonia com a pouca luz do teu dia, encontras um novo pedaço de ti e cresces um bocadinho.
O dia não ganha mais luz por isso. Claro que não. Mas tu aprendeste, aprendeste-te e melhoraste-te. Cresceste emocionalmente e passaste a saber lidar de uma melhor forma com a parca luz dos teus dias. Eu cresci. E comprometi-me por isso, nos dias que lhe são contados, a fazê-lo saber tudo o que não o fiz saber nos últimos 25 anos. Comprometi-me a sair daqui agora e, nos dias que lhe são contados, a fazê-los valer a pena.
Amo-te, já com saudade.