Não sei entender-te em mim.
É estranho não falarmos há tanto e tu visitares-me uma vez por outra nos meus sonhos. Tu ali, bem presente, bem quente, sensual no teu jeito miúdo e inocente, a fitar-me com esse teu sorriso audaz e tímido ao mesmo tempo. E é uma porra que seja só nos meus sonhos. Que seja só nos meus sonhos que te vejo, que te toco e que te beijo. É uma porra, porque de bom grado eu passava o resto dos meus dias amando-te, uma e outra vez, e outra vez ainda, de todas as vezes.
Mais estranho que tudo isso, que não sei de que fumo vem entre os meus sonhos, é acordar depois de ti e sentir ainda no ar o teu perfume. O teu nome e a doce imagem de ti rodopiando-me na cabeça; o teu perfume não menos doce rodopiando no ar, dançando à minha volta e entrelaçando-se em mim. Senti-o de manhã quando o dia me arrancou de ti e sinto-o ainda agora, aqui bem perto, arrancando-me também de mim.
Não sei se me estás na cabeça, se me estás na roupa que visto, nos lençóis onde me deito ou no ar que respiro, mas estás aqui sem estar e isso enlouquece-me como eu não te sei explicar. Mas é de loucos e na minha loucura eu tomo consciência de quão louco sou por ti. E é loucura mesmo, por mais que auto-diagnosticada, porque sinto hoje a tua falta sem nunca te ter tido.
E no entanto, loucuras à parte, estou louco por me deitar de novo, por adormecer de novo, na esperança do reencontro; na ânsia de que regresses do fumo à minha vida, só para ter mais um vislumbre do teu rosto (e, não querendo falar de novo dele, do teu sorriso que não tenho como esquecer), só para viver intensamente mais cinco minutos da nossa relação imaginária e do nosso amor proibido. Só para amanhã te sentir de novo no ar e em mim, na pele, nos pulmões e no coração, ardendo. Só para reviver e padecer só por mais um dia da loucura agridoce que é querer-te e que é ter-te sem te ter.