Estacionaste o carro no meu lugar e saíste tremendo e chorando, entre soluços, talvez com receio do que estava para vir. Quando nos sentámos frente a frente no mesmo sofá onde tudo começara dois anos antes, ambos percebemos o rumo que os próximos trinta minutos levariam. Mas nem assim doeu menos.
Xeque-mate. As tuas últimas palavras caíram como pedras em mim. Pedras de um mundo nosso ruindo ruidosamente dentro do meu peito. Oiço-as ainda, entoadas pela tua voz insegura: "Quero-te e quero querer-te, mas preciso de mim sem ti". Cada palavra um murro, atingindo-me repetidamente no estômago. Uma, duas, três... Dez. Dez palavras. Dez murros na fragilidade que crescia em mim a cada segundo. Dez murros que me arrancaram o ar dos pulmões e que te arrancaram de mim. Lia nos teus olhos, para lá das lágrimas, que baloiçavas timidamente entre o querer e o não querer, e todavia foi a indecisão que ditou a tua última cartada no nosso jogo a dois.
Percebi quando te levantaste e te vi sair pela porta, hesitante, que estavas a sair para sempre da minha vida; que levavas nos bolsos, entre as chaves de casa e os trocos do nosso último café, uma parte de mim.
Nunca mais me sentei naquele sofá.