sábado, janeiro 27, 2007

Reflexão

Uma lágrima cristalina cai, tornando o papel molhado e rugoso. A tinta, gasta em palavras soltas, desvanece aos poucos nessa grossa gota salgada. Palavras que não parecem ter muito sentido. Todavia, a ideia retida em cada pequeno conjunto de letras mostra um pesado sentimento de amarga saudade. O arrepio que salpica nas costas e o formigueiro persistente que se apodera da mão, até à ponta dos dedos, dão um gosto quente sobre a frieza do papel, à medida que as palavras vão surgindo, calorosas. Sem marcar a tinta cintilante nele, papel, é difícil viver entre a escura solidão e o agonizante sofrimento... Com sequência, as lágrimas continuam a molhar o papel, a manchar e turvar as palavras e, aos poucos, mostram a convulsão e o sufoco apertado duma mente fustigada. Manchas que dão ao texto uma exclusividade pitoresca de uma expressão dura, fria e impetuosa. As memórias antigas encadeiam-se num sonho, que ecoa na mais profunda penumbra dessa mesma mente, a cada noite que inevitavelmente passa. Avivam o passado inesquecível e alimentam a esperança de um futuro igualmente singular. Cada protagonista dessas memórias é um ponto de luz nos dias de lubrina densa e escura e cada um é um longínquo caminho descoberto com muito ainda por descobrir. Cada um é uma das lágrimas que se soltam e cada um é um sorriso, por muito mais fugaz que ele seja.
A ironia impossível de entender é a longa durabilidade dos tempos em que anseio por vocês e a instantânea rapidez com que passam os momentos em que convosco estou. Há muito questiono a inquestionável razão de ser assim. E aqui nasce a soturna e lúgubre "solidão" de que muitos falam.
Resta-me murmurar este segredo:
« Um dia estas lágrimas secarão, tornando seco o agora humedecido e enrugado papel onde escrevo. Nesse dia perceberás o que digo. »