Alternava entre os cigarros e as unhas, quando as tinha, sempre que ias. Ia deixar os miúdos à escola de manhã e enquanto não era hora de os ir buscar limpava a casa de alto a baixo três vezes ao dia, só para me manter ocupada. Quando já não havia mais uma pinga de pó para limpar ou uma peça de roupa para lavar e engomar plantava-me à janela e observava as beatas, uma atrás de outra, a derreter-se por entre os meus dedos.
Os dias eram longos e cada segundo parecia demorar uma eternidade. Ouvia na minha cabeça os tiros que te rodeavam e tremia só de os imaginar. Só esperava ver-te surgir no horizonte, recortado no céu, de capacete na mão e mochila às costas, naquele teu passo exausto. Nada me trazia maior felicidade.
Congelei no dia em que quem vinha ao longe não eras tu. No dia em que me bateu à porta a notícia, como todas as noites nos meus pesadelos. Desde então, para além da cinza nos meus dedos derretem-se as lágrimas na minha cara, por entre soluços sufocados.
Salvaste a Pátria e agora eu tenho de salvar o nosso Lar, mas como é que se explica a um rapaz de seis anos que sonha ser como o Pai que partiste numa viagem para não voltar mais?
Sem comentários:
Enviar um comentário