Prossegue lá fora o dilúvio.
E eu prossigo cá dentro sem ti. O ruído da tua ausência e do teu silêncio inquieta-me. Mal oiço a trovoada que ruge lá ao longe. A falta da tua arrumação desarruma-me. Desarruma-me o pensamento. As ideias e os sentimentos. Remexe e revira tudo o que ainda respira aqui dentro.
Não consigo deixar de achar incrível a colecção de copos que vou deixando espalhada pela casa, uns vazios, outros meio vazios... E que mais incrível ainda era a paciência com que endireitavas estes meus defeitos sem deixar que eu desse conta deles.
Hoje, cada copo esquecido com que me deparo é um novo vislumbre de ti. Cada copo, cada cadeira da mesa, cada sofá da sala, cada lugar do carro, cada casa, cada quarto. Até o colchão da cama, como eu, ganhou a tua forma. Moldámo-nos a ti. Estás em todo o lado. Sim, estás. Vejo-te em todo o lado. É quase possível cheirar-te em todo o lado. Mas feitas as contas, não estás mais em lado nenhum. Não aqui, pelo menos. Mesmo depois da Vida continuas a bagunçar-me.
Os miúdos estão bem. Acho que finalmente consegui explicar-lhes o que é um Anjo e todas as noites antes de dormir eles procuram-te no Céu.
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