Fechei-me há anos ao amor por recear o poder que consegue ter sobre mim. Com o passar do tempo, encontrei nesse desequilíbrio o meu meio-termo de felicidade. A minha paz interior.
E então apareceste tu. E vieste com a missão de agitar as fundações do meu ser.
O meu coração perde o compasso quando estás por perto. Sinto-o galopar-me no peito, agitado como um cachorro saltitando pela sala. Sinto-o falhar batimentos, para os compensar logo de seguida em dose dupla, com força contra as costelas.
Vejo-te e sou atirado de volta à adolescência. Aos amores para sempre. À paixão ardente, virgem e pura, à curiosidade, ao nervosismo, às borboletas no estômago. Caem-me por terra o escudo e a máscara e ali fico frágil, nu, exposto ao teu mistério, tentado pelo teu calor.
Os teus lábios mornos a um palmo de distância chamam-me num sussurro mudo ao ouvido. Olho-os fixamente, tentando adivinhar-lhes a temperatura e o sabor a que sabem, e no meio tempo sou derrotado pela fragilidade de criança em mim, vencido pela inocência, pelo medo de antigamente, e estagno ali, apenas a imaginar e a reviver um beijo que não chega a haver.
Quero tirar todas as horas do dia para olhar para ti. Quero sentir-te a pele e as linhas do teu corpo. Quero atirar-te o cabelo para trás da orelha e beijar-te o pescoço. Quero adormecer e acordar com o cheiro do teu perfume. Quero sonhar contigo. Quero sonhar os teus sonhos; quero viver os teus sonhos. Quero entrelaçar os dedos nos teus, nas tuas mãos frias, e mostrar-te o mundo. Quero pegar no teu dedo e dizer-te que é para sempre, o meu sempre, seja ele amanhã ou daqui por oitenta anos, enquanto eu respirar.
Mas tu permaneces de olhar fixo no horizonte, a observar serenamente o que te rodeia, sem te aperceberes de que ali estou. Sem te dares conta da agitação que no meu silêncio e na minha quietude me corrói as entranhas, bem até ao osso, quando o desejo e a hesitação se entrelaçam e medem forças. Não sei lidar contigo. Tento ler-te, mas pareces vir escrita numa língua que eu não conheço. Grito por dentro, mas tu não ouves.
Entenderias, se ouvisses?
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