Se em matéria de matéria somos essencialmente água, em matéria de alma somos essencialmente sonhos.
Era isto que a minha avó tentava explicar-me. Tu és o teu castelo de sonhos. O género de castelo é lá contigo; tu decides se empilhas sonho sobre sonho, como blocos de pedra, e constróis um castelo no cume de uma montanha, ou se os dispões antes lado a lado, ao comprido, e constróis uma muralha tão infinita quanto infinitamente saibas sonhar.
O que é certo, dizia-me ela, é que não basta ser-se sonhos. Para se ser sonhos é apenas preciso atirar com carvão e lenha para dentro do forno da imaginação e soprar as brasas. O que é preciso é vivê-los. É correr loucamente atrás deles como leões atrás de gazelas, de garras para fora.
Quando te olhas ao espelho, despe-te de roupas, de penteados e de caras. Quantos sonhos vês? Quando sobes para a balança, cega os teus olhos para números e medidas. Quantos sonhos vês? Quando olhas pela janela, para o mundo lá em baixo e à tua volta, solta-te das tuas próprias correntes, dos teus medos e das tuas dúvidas. Quantos sonhos vês?
Não importa se é aquela ida ao ginásio na porta ao lado mas que parece tão distante, aquele café com o amigo quase esquecido, aquele telefonema que andas há séculos para fazer, aquele perdão que andas a adiar, aquela viagem até ao outro lado do globo, aquele curso superior que querias e não o que alguém queria para ti, aquele emprego que é a tua cara, a conclusão daquele projecto pessoal pendente, a publicação daquele livro ou uma completa viragem de 180º. Nunca é tarde de mais.
Recorda que os teus sonhos são o teu castelo e que não é esperado que alguém o construa por ti. Relembra que todas as jornadas, por longas que sejam, começam com a coragem de um primeiro passo. E antes que a palavra "fracasso" se forme na tua mente, como justificação cansada para desistires de ti, lembra-te que em criança não começaste a andar sem antes tropeçar e sem antes cair. Uma, duas e três vezes.
Como me disse um amigo, todos os puzzles começam com as peças dispersas, baralhadas. O que é preciso é saber juntá-las, uma a uma. Sonho a sonho.
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