Desisti.
Onde é que te meteste...? Procurei-te por toda a parte e nem um sinal de ti...!
Não és justo! Não podes assaltar-me de rompante e roubar-me de mim e do meu porto seguro, com a luz no olhar e o coração sorridente, para depois me desapareceres assim, de súbito, num vapor, num fumo que se esfuma, e deixar-me entregue a mim mesma e à solidão fria de ser-se eu, desesperando sobre a tua ausência, ressacando sobre o calor que me aconchegava o coração, sobre o perfume que deixaste em mim, nas minhas roupas e na minha pele e na minha cama e um pouco por todo o ar (e quiçá já na minha imaginação), sobre o piano leve e doce que ainda me adormece ao longe sobrepondo-se à lareira crepitando, e afogando-me definhando no vaivém de nostalgia que se abate sobre mim como ondas, como mar salgado que é sobretudo agridoce, acumulado e perdido em álbuns de fotografias, memórias das memórias que fomos construindo e colorindo os dois, distantes e dispersas como as estrelas espalhadas ao acaso no céu.
Não podes. Não podes, não podes, não podes! Não devias poder.
Mas de ti nem mais um vislumbre.
De ti nem mais um pio.
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