Não sei quanto tempo me resta.
Quanto tempo nos resta aos dois.
Não faço contas aos dias.
Pouco importa.
Sabe que me alegra dar apenas ouvidos à Vida. O sol a abater-se sobre o horizonte. O céu a tingir-se de todas as cores. O vento no rosto. A energia que me pulsa nas veias. O ar nos pulmões.
Por isso, quando morrer, quando eles teimarem em calar-se e em resignar-se ao silêncio, põe a tocar a minha música e deixa a guitarra de noite de fogueira ecoar entre as velas, entre o murmúrio calado. Deixa depois soar lentamente a voz pelas paredes frias, deixa entrar a bateria em ritmo de Verão, e depois recorda-me de sorriso bem rasgado, com as rugas a acumularem-se-me nos cantos dos olhos.
Recorda-me de coração quente, pele quente, num abraço apertado. Recorda-me segurando a tua mão, os dedos entre os teus. Recorda-me a cantar a plenos pulmões no carro e na rua à chuva. Recorda-me a ser Feliz a cada segundo, a cada esquina, na vulnerabilidade simples que é Ser-se. Recorda-me nessa leveza da alma e imagina-me a levantar voo algures, a flutuar em direcção ao Sol, por entre astros e asteróides, e a dançar entre as estrelas. Recorda-me como Principezinho saltitando de planeta em planeta, de inocência em inocência e de sonho em sonho.
Depois, guarda-me em cada flor e árvore que plantes. Guarda-me em cada rio que atravesses e em cada cascata que visites; guarda-me no burburinho que fazem quando correm e quando caem. Guarda-me em cada país que conheceres. Guarda-me em cada fotografia que tires. Guarda-me em cada passeio que faças. Guarda-me em cada noite fria e em cada dia mais sem fim. Guarda-me quando anseias, mais ainda quando temes. Guarda-me quando duvidas, quando esqueces quem és. Guarda-me em cada beijo na testa.
Não sei quanto tempo me resta.
Quanto tempo nos resta aos dois.
Sei apenas que, além do sol no horizonte, do céu tingido, do vento no rosto, da energia nas veias e do ar nos pulmões, eu vivo o bater do teu sorriso e o riso do teu coração.
Então, deixa tocar a música e guarda-me em cada passo e cada gesto teu, que eu serei sempre, em cada canto do teu coração, cada som e cada cor do mundo.
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