quinta-feira, outubro 15, 2015

Palco de Guerra

Descobri que não sei o que é o silêncio. Que o meu silêncio é o mais ruidoso deles todos e que me ensurdece como nenhum outro.

Disseste-te um dia curiosa para conseguir ver o que se esconde para lá dos meus olhos. A loucura que dança para lá daqueles dois pequenos espelhos que te olhavam. Dizias imaginar que a minha mente era um palco de guerra, debaixo de fogo cruzado e cercada de explosões aqui e ali. Foram essas as palavras que escolheste. E não deixa de ser engraçado - e intemporal - que naquela tua pequena inocência tivesses tamanha razão. Afinal de contas,  sempre tiveste o hábito de pintar a tua opinião com um jeito muito próprio, arrojado, mas muito acertado.

É um palco de guerra. É um fogo cruzado a cada instante, sem uma trincheira onde te possas abrigar para recuperar o fôlego antes de uma nova investida. Sem uma parede entre ti e o inimigo, uma sombra que te resguarde do sol ardente ou um tecto que te ampare a chuva.

É a tempestade de areia que varre o deserto. É um tic-tac miudinho que te persegue, um sussurro que te encontra por mais que fujas e por mais que te escondas. É a voz que te falha quando queres fazer soar o alerta ao camarada que luta ao teu lado, é a soma de todos os receios e anseios quando o vês tombar diante dos teus olhos. É a angústia e a frustração de te aperceberes que não pudeste fazer nada para mudar o destino que teve. É o medo que te assola quando caiu o teu último homem e és o próximo a estar na cara do inimigo. O sufoco que te espreme os pulmões e te suga o ar quando escutas os seus passos arrastando-se até ti. É o rasgo de coragem que se incendeia em ti para te conduzir numa última carga. É o estilhaço de dor de seres atingido dez vezes no peito e duas na cara. É o frio que te trepa pelas pernas à medida que o sangue escorre pelo teu corpo. É a impotência de te veres vencido e vexado pelo teu inimigo, gigante diante de ti, enquanto cais de joelhos. É o desamparo que se apodera de ti quando os teus últimos suspiros te roubam as forças. É o silêncio mortal que paira no ar, numa dança macabra, depois de caíres de bruços, sem vida. 

É tudo isso e o teu inimigo seres Tu própria. 

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