Não te pergunto, mas sei bem que o sentiste.
Sei que respiraste do ar a mesma tensão. De repente, um fosso vazio no ar, no espaço curto entre nós, e a mesma fraqueza nos joelhos, as mesmas contracções no peito e a mesma revolução no estômago.
Toda eu era hesitação, paralisada de alto a baixo. A tua perna encostada à minha fez-me perder o controlo de mim. Fui consumida. Vivi e revivi na minha cabeça os meus mais profundos desejos. Sentia-te o calor à distância. Sentia-te cada respiração. O sangue fervilhar debaixo da pele, por baixo da roupa que eu só queria arrancar-te. Sentia-me quente. Sentia-me gelada ao mesmo tempo. Não sei o que sentia. E queria, assim, sem mais nem ontem, virar-me para o lado na cadeira, puxar-te pela nuca e provar-te os lábios e saber a que sabem.
Queria mais, queria tudo. Não sabia o que queria. Mas queria e deixava de querer e queria tudo outra vez ainda mais loucamente. E contudo, no meio desse tudo e de todo esse nada, não queria arriscar arriscar-me, arriscar-nos; atrever-me e deitar tudo a perder. Eras bom demais e uma noite de copos não justificava pôr isso em cheque. Por isso, mantive-me quieta, sossegada, e tentei a custo controlar a respiração, ajeitada normalmente no meu lugar. Desejei por tudo que não te apercebesses e fingi-me igual, inerte, desinteressada. Ardia por dentro, contida, mas fingi-me, esforcei-me e forcei-me a não arder.
Hoje, apenas com o teu perfume na memória, arde-me a angústia, arde-me o meu ardor. Mata-me a tua ausência, mais ainda o desamor. Viraste ferida aberta exposta ao ar, ao álcool etílico da minha solidão. És esperança que a incerteza faz sangrar e ânsia que dança no meu coração.
Para mim, guardo o último sorriso que sorriste. Não te pergunto, mas sei bem que o sentiste.
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