Sinto-me tão perdida às vezes...
Olha em teu redor.
Como foi que chegámos aqui? Virámos Licenciados, Mestres e Doutores. Tornámo-nos especialistas das ciências, da Matemática, da Contabilidade e da Tecnologia, e desenvolvemos e utilizámos o nosso mais apurado intelecto para construir o mundo de hoje. Criámos o topo-de-gama em tudo, em todas as coisas: nos telefones, nos computadores, nos tablets, nos carros, nas motas, nos aviões, nas roupas, nas organizações, nas start-ups, nas redes sociais...
Vimos virar o mundo de uma era de escassez para uma era de abundância (à parte, é claro, das regiões desfavorecidas de que fingimos não nos lembrarmos), onde a dificuldade deixou de se medir em "ter ou não ter", mas em "qual escolher?". Hoje temos tudo. E orgulhamo-nos tanto disso, de empregarmos com tanto sucesso no mundo o nosso intelecto e exímia capacidade de raciocínio, que tanto nos distingue enquanto Seres Humanos.
Mas... A que preço...? Será que aquilo que nos distingue como Humanos é mesmo - e sobretudo só - a nossa capacidade intelectual, a nossa capacidade de processar números e lógica e de, com isso, criar tanto excesso, tanto material? A nossa capacidade de injectar no mundo necessidades de que, em boa verdade, não necessitamos assim tanto? E de, com isso, injectarmos também a ânsia e a busca desenfreada por felicidade por via dessas "necessidades" e por via de as mostrar ao mundo, em ostentação plena, a troco de Gostos e Partilhas? Será mesmo este o sinónimo de evolução...?
Esquecemo-nos de que viemos a este mundo sem nada e que dele sairemos sem nada também. E, no entanto, perdemos todos os segundos da nossa hora e todas as horas do nosso dia a lutar por "aquela coisa" que nos fará realmente felizes e a discutir por "aquele problema" que, reforço encarecidamente, não levaremos desta vida.
Esquecemo-nos da nossa essência mais básica. Esquecemo-nos do afecto; da capacidade humana de nos ligarmos emocionalmente com todos os outros seres iguais a nós em tudo. Esquecemo-nos do amor e, pior, envergonhámo-nos da palavra "amor" e fizemos o exercício de a esquecer em nós, porque alguém nos fez acreditar que amar é ser-se frágil. Porque alguém nos fez acreditar que o amor é um sentimento, uma emoção; que o amor é dependência e ser dependente é inadmissível nos dias que correm.
E se eu tentasse explicar-te que amor que é amor não é um sentimento, mas sim um comportamento? Que é, em comportamento, a fusão de tudo aquilo que, enquanto Humanos, temos de melhor? Que é altruísmo, que é respeito, que é carinho, que é bondade, que é generosidade, que é paciência? Que é servir? E que, enquanto comportamento, advém puramente de uma escolha, de uma decisão? O outro antes do eu?
Para mim é esta capacidade de escolher o amor o nosso maior trunfo como Seres Humanos. Essa capacidade de fazer o dia de alguém um pouco melhor em cada pequeno gesto, em cada palavra, em cada sorriso e em cada abraço. Essa capacidade de contagiar positivamente a energia de quem nos rodeia e de, aos poucos, contagiar a energia do mundo. Essa capacidade de tornar o mundo um lugar melhor e sobretudo mais Humano. Mais frágil, mas mais terno e mais alegre.
Mas nós esquecemo-nos e virámos ego. Virámos Eu, em vez de Eles e em vez de Nós, desde o momento em que abrimos os olhos e pomos os pés no chão pela manhã, decididos a ser o próximo herói da História. Mas fará sentido querer ser o herói da História se não formos antes o herói da nossa família? O herói dos nossos pais, dos nossos irmãos e dos nossos filhos...?
Um pequeno gesto de generosidade, de amor, pode fazer tremer o mundo de alguém. E não há melhor sensação no mundo do que essa. Talvez valha a pena pensar um pouco nisso, na próxima consulta entre Facebook e Instagram, antes que seja tarde de mais.
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