segunda-feira, setembro 05, 2011

Pontas Soltas

Ouvem-se coisas acertadas aqui e ali. Coisas que se vão falando para o ar de tempos em tempos, quando se passa por experiências boas e experiências más, que um dia mais tarde vêm espelhar - com mais ou menos precisão - aquilo por que passamos eventualmente. Se assim é, se as palavras e histórias de uns se ajustam às nossas, então talvez sejamos mesmo todos diferentes, mas no fundo todos iguais. É nisso que vou acreditando à medida que passam e voam os dias. É isso que começa a levantar-se como verdade. Mas como para toda a regra, também aqui há uma excepção. Ou duas, se quisermos ser minuciosos.

Ainda que na pretensa igualdade, há quem insista em viver num mundo paralelo, à parte deste nosso, onde é rei e dono e senhor do universo e arredores. Caminham como pavões por entre o reles e comum mortal, como se de algum modo um poder divino lhes tomasse as veias. Mas esses estão longe de ser preocupação ou problema de alguém. Talvez sejam motivo de inveja para uns, talvez para muitos até, porque nos dias mais tenebrosos que nos assolam conseguem irromper dessa penumbra com facilidade, superiores a tudo o resto. Fora isso, mais dia, menos dia falhar-lhes-á um pé nessa arrogante escalada ao Olimpo e então baterão no fundo, no nosso fundo, onde estamos todos e onde devemos estar. E que batam de cabeça, pelos deuses, para que se extinga a ideia de tentar subir uma vez mais!

Os outros, os que constituem a segunda excepção, pertencem a um grupo mais restrito e de certo modo mais problemático. É o grupo dos apáticos. Caracterizam-se de forma geral por serem pessoas excepcionais, cientes de que somos de facto todos iguais, mas que se esquecem com relativa frequência dessa mesma realidade. E por descuido passam pelos iguais, de olhos postos no que quer que esteja imediatamente além deles, e atravessam-nos sem sequer dar por isso. Sem ponta de má fé, contrariamente aos da primeira excepção.

Contudo, aqueles que se sentem invisíveis, sentem-se igualmente magoados... Uma, duas e três vezes. E quatro, cinco e seis, enquanto houver fôlego para suportar mais! Até que um dia esse embate lhes tire todo o ar dos pulmões. Aí, baixam os braços de vez e então dão um passo ao lado, para que deixem de ser atravessados. E passam simplesmente a não estar lá. Um dia, dois, três... e os apáticos nem se apercebem, porque em boa verdade nem se apercebem do que fazem.

Gostávamos sempre que tudo fosse mais simples, não é? Não era tudo mais fácil? Que um erro não gerasse uma discussão. Que um passo em falso não fizesse cair o céu e tremer o mundo. Que cada um fosse apenas quem fosse, diferente em tudo mas igual em tudo também. Que reconhecesse e aceitasse cada bocadinho e cada recanto de si, cada dom e cada defeito, para que pudesse revelá-los abertamente aos outros e pudesse ser aceite também por eles, sem medos e sem hesitações. Afinal de contas, é a aceitação e cooperação de todas essas diferenças - por mais profundas que sejam - que nos torna especiais aos olhos dos amigos, sem deixarmos de ser iguais a nós mesmos aos olhos do mundo!

Somos iguais, eu e tu. Somos imperfeitos: está inerente à nossa condição de humanos. Vive e deixa viver. Erra - reconhecendo o erro e deixando isso claro a todos - e por fim deixa errar. Não negues, feitas as contas somos mesmo iguais e é aí que reside o nosso verdadeiro valor.

1 comentário:

  1. «Somos imperfeitos: está inerente à nossa condição de humanos.»

    «Não negues, feitas as contas somos mesmo iguais e é aí que reside o nosso verdadeiro valor.»

    Imperfeitos, iguais em dignidade e valemos por isso. Acho que não é preciso dizer mais nada...

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